Resistência nissei

      Seus cabelos eram grisalhos, olhos puxadinhos, diferentes dos mangás onde são bem grandes e abertos, uma autêntica nissei, baixinha e um pouco acima do peso, utilizava uma bengala para auxiliá-la em sua locomoção.

      Tem o hábito de pegar o ônibus com frequência, sempre no mesmo local e no mesmo horário. Também tem o costume recorrente de não subir ao ônibus com a máscara, precisando sempre ser lembrada. Alguns motoristas já sabendo com quem estão lidando tomam a decisão de ignorá-la, passando batido pelo ponto, sem parada, deixando para o próximo colega o “ônus” de pegá-la.

      Neste dia, embarcado no mesmo carro pude conhecer sua história contada pelo motorista. Ele é firme ao lembra-la da obrigatoriedade do uso da máscara, que ela um tanto relutante coloca. Reclama da dificuldade em fazê-lo, enquanto ele a orienta.

      Senta-se de uma forma lenta, acusando a idade avançada, responde que já vai colocar. Além da lentidão, há um quê de resistência, murmúrio e lamentação e termina por fazê-lo. Sua máscara está puída, extremamente gasta. Encardida, é visível as manchas pretas por dentro e também por fora. As alças de tão usadas, já perderam a elasticidade.

      Por que nunca coloca a máscara antes de subir ao ônibus? Por que não a substituiu? Ou mesmo por que não tem o hábito de lavá-la? Não possui parentes que possam ajuda-la? O que a leva a resistir a um gesto que já deveria estar acostumada? Os orientais já estão familiarizados com máscara há um século, são disciplinados. Qual seria a sua motivação ou falta dela? Hora de desembarcar, este segredo fica com ela.

 

 

Fonte da imagem: deposiphotos

<a href="https://pt.depositphotos.com/stock-photos/places.html"> - pt.depositphotos.com</a>


 

Comentários