Era muito atraente, tinha um sorrido gostoso e cativante. Conhecia-a há algum tempo. Só tinha um defeito ao meu juízo: era comprometida e tinha dois rebentos para cuidar. Pena, que se há de fazer, né? Bora apreciar de longe, é o que resta e vida que segue. Esta mesma vida que nos prega peças e às vezes nos surpreende.
Veio o flagelo universal que nos empurrou goela abaixo, novos hábitos, cuidados e precauções que sequer pensávamos em utilizar em nossas rotinas. Mas o que mais pegou foi a reclusão em massa que viria afetar humores e estados mentais não acostumados ao enclausuramento, principalmente de pessoas que não estavam acostumadas a viver tanto tempo juntas, mesmo carregando um círculo dourado no anular esquerdo. Houve um baque geral nesta área.
Agora solta e livre, a situação era outra. Já dizia alguém que sonhar não paga imposto. Será que estaria disposta a conhecer alguém? Estava aberta a um relacionamento? Meu caminhãozinho poderia levar aquela areia? Nestas horas os neurônios parecem jornalistas esportivos em uma redação em época de Copa do mundo, fervilhavam. Quantas ideias, desejos, suposições, intenções.
Reação positiva, começa o flerte, conversas muito produtivas, ideias relevantes e interessantes trocadas em mensagens e conversas. Mil coisas passando na cabeça, falamos muito sobre muitas coisas, começamos a fazer planos e o confinamento seguindo firme. Aquilo foi extremamente estimulante e me pareceu altamente promissor.
Mas, a vida mais uma vez pregou uma peça, de repente todo aquele clima de paz, empatia, apreço, interesse, conexão, se desfez como fumaça. Numa mudança repentina tudo havia virado de ponta cabeça. Contatos interrompidos, conversas cessadas, nenhum breve resquício do que poderia ser a motivação. Foi uma ducha de água bem fria.
No rádio ouço uma música de uma dupla britânica que embalou minhas noites no tempo de minha adolescência, aquela música era vigorosa, gostava muito de ouvi-la e de dançar quando ouvia, não tinha a mínima ideia do que dizia, mas agora ao ouvir de novo tive uma forte convicção de que ela dizia algo a respeito do que estava sentindo. E de fato tinha tudo a ver, ele está triste e busca entender o que está acontecendo. Agora ela faz parte da minha vida, ficou na minha memória.
Tem uma outra também, esta de uma cantora brasileira falando de uma decepção amorosa, na música apesar de estar triste e decepcionada, ela acredita que as coisas possam se resolver e mantém a esperança que algo aconteça. Também me sinto identificado com esta, é mais uma que ficou gravada em minha memória.
Também fiquei chateado e às vezes praguejava e maldizia o objeto daqueles sentimentos intensos. E a mesma cantora tinha uma outra música, esta também sobre decepção amorosa, mas nesta ela decidiu esquecer tudo e seguir em frente, aqui ela supera, levanta o astral e melhora sua autoestima. Fico alternando entre as duas músicas, numa clara demonstração de falta de rumo.
Um poema-convite para conversarmos sobre aquilo tudo que poderia ter acontecido e a interrupção repentina do que não chegou a acontecer não surtiu efeito algum. Aparentemente estava decidida a pôr um ponto final naquilo tudo. Não havia mais o que fazer ou falar. Havia acabado o que sequer tinha começado. Enquanto isso alternava entre as três músicas.
Um último poema acolheu meu desabafo sobre uma ilusão que cultivei até onde a minha dignidade permitiu, foi o último suspiro de um tolo que não soube se enxergar. Também, fazer o quê? Para conquistar alguém é preciso se arriscar. E se você chegar a se envolver e mergulhar de cabeça pode descobrir que a piscina estava vazia. O café é meu companheiro, nunca irá me negar de sentir o aroma, a temperatura, o sabor e o prazer de bebê-lo. Um brinde ao ato de arriscar-se.
Fonte: depositphotos
https://depositphotos.com/br/free-files/x%C3%ADcara-de-caf%C3%A9.html?qview=230836462

Comentários
Postar um comentário