REFUGIADOS

 

      Instalados de forma precária com suas famílias, quando ainda resta uma, abrigam-se em lonas, em condições sanitárias precaríssimas, correndo risco de adoecerem ou até morrerem de fome, já que a situação de vulnerabilidade em que se encontram não lhes são garantidos os direitos básicos de cidadão.

      Pessoas que são privadas de ter uma vida minimamente digna, onde uma guerra contribui para tornar suas vidas ainda mais insuportáveis. Procuram viver em refúgios onde possam ter um mínimo de paz, mínimo mesmo.

      Resolvo tirar uma foto, impressionado que estava com tanta pobreza que havia ocupado uma praça inteira do centro da cidade “que não pode parar”, o que, que não para? Pelo menos a pobreza, a miséria e a exclusão, continuam a todo vapor, no ritmo da Pauliceia desvairada, como diria Mario de Andrade há um século, na semana da arte moderna, inaugurando um novo estilo de escrita, falando da cidade, segundo ele seu livro era áspero de insulto e gargalhante de ironia. Para mim cem anos depois, áspero é o sistema econômico que exclui milhões de pessoas. Não consigo gargalhar com nenhuma ironia.

      Chamados de invisíveis por não serem notados, estão todos ali, expostos de forma clara, diria que hostil. Um homem barra meu caminho e diz que quer conversar, estava do outro lado da rua, preocupado, imaginei um assalto, quis me desvencilhar, continuou me cercando, chegou mais um. Perguntaram o porquê das fotos. Expliquei. Eles só queriam que não se tirassem fotos. De forma talvez inconsciente queriam permanecer invisíveis, o que impedirá que sejam atendidos, quem sabe aqui não está a gargalhante ironia do poeta?

 

Imagem: Pça Princesa Isabel – São Paulo – SP – março de 2022

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