Imagem: deposiphotos
Sábado à tarde, televisão sintonizada num canal aberto, transmite um programa de auditório, destes milhões que existem, minha mãe com mais de oitenta primaveras ainda se impressiona com este tipo de programa, eu, . . ., bom eu já me impressionei quando criança, o programa é o mesmo, o quadro, a forma e o apresentador.
Agora, também com mais de oito décadas de vida e outras tantas na televisão, tem mantido no ar, uma fórmula manjadíssima. Resolvi acompanhar aquele velho programa por pura curiosidade, reviver aquilo que já gostei um dia.
Num primeiro momento trouxe um cantor, jovem, simpático, bem apessoado. Cantou, dançou, foi bajulado até não poder mais. Conhecidos, parentes e amigos deram seus depoimentos, uma unanimidade nacional. Fiquei imaginando as milhares de pessoas que também acompanhavam ficando admirados e emocionados com aquela figura tão gentil, meiga e doce, nada contra o convidado.
Num segundo momento, veio outra figura, diametralmente oposta. Um senhor, cabelos grisalhos, antipático e intolerante, um verdadeiro connard. Já conhecia a figura pela sua personalidade polêmica e agressiva e sua visão conservadora, para usar um eufemismo.
O quadro é aquele ao qual o convidado é chamado a dizer se “tira o chapéu” para determinadas personalidades (escolhas da produção bastante previsíveis, escolhidas para o convidado causar).
Eram dez pessoas onde o convidado primeiro verifica cada um, afirmando sim ou não, depois volta a cada um deles explicando suas escolhas, Um youtuber, uma ecologista, políticos, um médico e por fim, um político de expressão nacional. O que todos possuem em comum? Visões políticas opostas ao convidado.
Ele conseguiu a proeza de não tirar o chapéu para ninguém. Em anos no ar nas várias vezes que assisti, nenhum convidado havia sequer passado perto disto. Ele mostrava as qualidades da pessoa, aí pegava um motivo banal, irrelevante ou questionável para não aprová-la.
A cereja do bolo, claro, ficou para o final. Era a última rasgação de seda do programa. Agora sua insuspeita família era chamada a dar seu depoimento. Alguma dúvida sobre a unanimidade? Agora ele pode concluir deixando transparecer, um mero acidente claro, a sua visão de mundo e a sua moral. Sentiu-se à vontade até para confessar o artifício de fazer ligações ilegais de água e luz em momentos de dificuldade, algo que ele criticou em uma das pessoas que não tirou o chapéu. O telespectador foi devidamente preparado para aceitar (engolir?) aquela figura difícil.
Um marqueteiro em época de eleição, personagem sempre muito criticado, não faria melhor. Uma manipulação das emoções que facilita o convencimento das pessoas em temas relevantes em outros momentos. São tratadas feito gado, é algo tão sutil, preparado, pensado e organizado que muitos ficarão anos sendo manobrados sem perceber. Sim tratados como gado, ou bois, bois sem nome.
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