O gol que Pelé não fez, nos pés de outro jogador.

 

 

       “Os anos se passaram, e com o tempo acabei assumindo minha identidade: não passo de um mendigo do bom futebol. Ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico: “Uma linda jogada, pelo amor de Deus”!”, trecho do livro: Futebol ao Sol e à Sombra, de Eduardo Galeano.

      Como Galeano, todos queremos ver um belo gol, bem como um jogo bonito que tenha dribles, passes corretos, tabelinhas, toques de classe e é claro, queremos ver aqueles gols, que de tão bonitos virem uma obra de arte. Mas a realidade costuma ser bem menos interessante.

      Estes dias um jogador tcheco, jogando contra escoceses, foi feliz no seu intento, muito semelhante àquele que Pelé quase fez. Patrick chutou a bola quase do meio de campo, um chute alto e longo, descrevendo uma hipérbole no ar, tal qual uma bomba lançada de um morteiro. O goleiro, por incrível que pareça, teve uma reação muito parecida àquela vivenciada décadas atrás. Pego desprevenido, correu em desespero para o gol, era tarde demais. Desta vez, não houve o fator sorte ao goleiro. A bola estufou o fundo da rede. Uma verdadeira pintura.

      Bem anterior ao chute de Pelé nos anos setentas, tivemos outro jogador, fazendo gols primorosos. Didi, na copa de 1958 fez um gol numa cobrança de falta que garantiu a vitória sobre o Peru, um a zero para nós. Coube ao atacante o privilégio de inspirar o nome do gol, folha seca.

       “Era como se fosse uma folha de outono, sabe? Descaindo ao sabor do vento. Desgarrada; destino incerto”, palavras de Didi.  Não bastasse fazer um gol tão belo, Didi, ainda era bom com as palavras. Duplamente poeta, no futebol e nas letras. Ver um gol destes é como ver o cometa Halley, quem perdeu a oportunidade, só terá outra chance em 2061, já que são precisos setenta e seis anos, até ele retornar. Mas esperança sempre é a última que morre.

 

 

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