Justiça, quae sera tamen

      No jatinho fretado, confortavelmente instalado, tomava um champanhe para comemorar seu último feito. Fugir do país, usando um passaporte falso, já desmascarado não podia permanecer no Brasil. Seus crimes cometidos no passado eram do conhecimento de uma de suas vítimas e tudo se encaminhava para a sua prisão. Em pleno voo, que ele contava, o levaria para fora do país, gargalhava com o seu comparsa, enquanto pensava em seus próximos passos para uma nova vida, contando com o sucesso de sua fuga.

       Não imaginava que havia caído em uma arapuca, como num romance de espionagem inglês, um comando de soldados havia substituído a equipe de bordo do avião, levando o nazista direto à polícia, para seu desespero. Esta cena foi ao ar em uma inocente novela das seis na globo.

      Se fosse na Alemanha e fosse um fato real, o alemão com seus noventa e poucos anos responderia na justiça pelos crimes de guerra cometidos, mesmo a segunda guerra tendo acabado há mais de setenta anos.

      Já aqui no Brasil, vários militares cometeram diversos tipos de crime, após o golpe de Estado de 1964, que os mesmos ainda insistem em chamar de revolução. Nossos vizinhos mandaram os altos oficiais envolvidos em crimes durante as ditaduras implantadas em seus países, para a cadeia e viraram a página.

      Aqui no Brasil, parece que é tabu falar disso, não se admite que os militares envolvidos em crimes daquele período possam ser punidos e os corpos das vítimas, localizados e velados, direito das famílias em luto permanente, sem direito a virarem a página. Até quando?


 

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