A foto, a culpa, o exército e o presidente

 

 

 


      Os anos passados naquela corporação do qual fez parte marcaram muito a sua personalidade, sua visão de mundo e o que entendia sobre democracia. Pelas suas palavras, posturas, gestos, tom de voz, vocabulário e agressividade não deixavam dúvidas sobre sua linha de pensamento. Tinha verdadeiro pavor a povo, chegando a afirmar que preferia o cheiro de cavalo.

      Como um militar que fora por muito tempo, estava mais acostumado a dar ordens e ser obedecido, ameaçar, intimidar e calar aqueles que porventura estivessem submetidos ao seu poder, a tal da cadeia de comando. Como presidente, via-se como uma pessoa acima de contestações, alguém que deveria ser ouvido e respeitado. Não era não e pronto, sem conjunções adversativas.

      Certa vez, ficou chateado por ter sido fotografado, havia deixado claro que não gostaria, porque pensava que seria uma demonstração de fraqueza aparecer numa foto demonstrando ser um ser humano comum, que não era indestrutível. Era só um braço engessado.

      Foi fotografado e ficou extremamente irritado com aquela ousadia. Onde já se viu fotografar o presidente, quando ele assim não o desejava? Resolveu se vingar de todos os fotógrafos, proibindo-os de fazerem o seu trabalho. Aquilo caiu muito mal entre os profissionais que decidiram dar uma resposta à altura.

      Assim que o presidente, o general João B. Figueiredo apareceu na rampa do planalto encontrou uma fileira de uma dúzia de fotógrafos com os braços cruzados e os equipamentos no chão, em sinal de protesto contra aquela atitude autoritária e cerceadora do presidente. Há um documentário sobre o episódio, “ A culpa é da foto”

      Coube ao fotógrafo José Maria França, a honra de registrar aquele momento. Foi um dia que entrou para a história, 21 de janeiro de 1984, os profissionais da imprensa mostraram que deveriam ser respeitados como profissionais da notícia que de fato eram. Mostraram que não aceitavam ser desrespeitados. Um exemplo de dignidade que bem pode servir para os dias de hoje.

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